Goiás
João de Deus continua lucrando com medicamentos espirituais,mesmo estando preso
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São esses guias, homens e mulheres de total confiança de João de Deus, que arrebanham clientes e ainda trazem centenas de turistas estrangeiros todos os meses para a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. Eles contam com sites para promover viagens para o Brasil e vender produtos e serviços. Vendem, por exemplo, sessões em camas de luz de cristais, remédios de passiflora, bijuterias, jóias e até serviços de cura por celular. Atualmente, 90% dos visitantes de Abadiânia vêm do exterior.
Uma excursão internacional de duas semanas para a cidade custa entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, dependendo da origem do turista. Considerando a frequência atual da casa, que não passa de mil pessoas por mês – nos tempos áureos, João chegava a receber 4,5 mil pessoas num único dia – o movimento financeiro gerado em torno da Casa Dom Inácio está em torno de R$ 15 milhões. Todas as semanas chegam turistas de países como Alemanha, Suíça, Finlândia, França, Itália, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, que estão sustentando uma parte dos negócios criados pelo médium depois que ele saiu de cena.
“João de Deus tem uma clientela muito rica no exterior e há uma campanha de contra-informação em que se tenta apresentá-lo como um injustiçado e perseguido pela imprensa e por ONGs”, diz a psicóloga Maria do Carmo Santos, membro do Grupo Vítimas Unidas e ativista de direitos humanos. “Ainda há gente que acredita cegamente nos seus poderes e há consultas por telefone celular realizadas por médiuns ligados ao centro”. Maria do Carmo conseguiu acessar pelo menos 40 sites internacionais que promovem a Casa Dom Inácio.
O guia Peter Waugh, representante de João de Deus na Nova Zelândia, mantém um site em que oferece serviços espirituais e pacotes de viagem para Abadiânia. Só neste ano ele montou duas excursões, em março e junho, e tem outra programada para novembro. Waugh, que é guia oficial da casa desde 2002 e controla um centro próprio no país chamado Casa de José, oferece as camas de luz de cristal, que custam R$ 12 mil, e também vende a coleção de bijuterias de quartzo, brincos de ágata e braceletes com a imagem de Santo Inácio de Loyola produzidos em Abadiânia com pedras retiradas das minas de João de Deus.
Waugh já tem excursões programadas para 2020. Na Suíça, o centro espírita é apoiado pela guia Julia Andrée, que, por meio do site Casa Lumière, oferece pacotes de viagem para Goiás, a 2800 euros, além de livros, quadros e imóveis para locação na cidade. Para ela, João de Deus ainda é um dos médiuns mais importantes do mundo.
O trabalho dos representantes da Casa Dom Inácio vem sendo questionado pelo Ministério Público Federal (MPF) porque eles atuam de maneira informal. São guias turísticos e espirituais ao mesmo tempo. Vários deles trabalham como tradutores para a casa ou são donos de pousadas na cidade. O problema é que exercem a profissão de guia sem autorização. Pela legislação brasileira só é possível atuar na área com o cadastro do Ministério do Turismo. A profissão foi regulamentada. “Estamos exigindo que os guias se cadastrem para permitir um maior acompanhamento da Casa pelo poder público”, diz o procurador do MPF Wilson Rocha. A exigência do certificado pode significar um sério golpe na Casa Dom Inácio. Hoje sua sobrevivência está atrelada ao trabalho dos guias que tratam de manter o negócio funcionando com visitantes internacionais. Sem eles, a máquina espiritual de Abadiânia pode entrar em colapso.