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Documentário brasileiro critica evangelização indígena no Festival de Berlim

Berlim, 17 set (EFE).- O cineasta brasileiro Luiz Bolognesi estreia neste sábado no Festival de Berlim, na Alemanha, seu documentário Ex-Pajé, que retrata a ameaça das igrejas evangélicas e da modernização ocidental para a identidade cultural dos povos indígenas contemporâneos.

O filme, que concorre na seção Panorama, mantém o foco na figura de um antigo pajé do povo indígena Paiter Suruí, que foi obrigado a se converter ao cristianismo após ser acusado de vínculos com o diabo.

A ideia inicial de Bolognesi, conforme o próprio diretor contou à Agência Efe, era rodar um documentário sobre os pajés, pois são essas pessoas que concentram todo o conhecimento das populações das Américas antes da chegada dos brancos, já que os povos originais carecem de uma cultura escrita.

O projeto sofreu uma grande mudança quando Bolognesi iniciou sua pesquisa e conheceu o ex-pajé que acabou se tornando o protagonista de seu documentário.

O cineasta se deu conta de que este era o assunto do qual queria falar, porque é, ao mesmo tempo, a história das Américas, de quando chegaram os portugueses, os espanhóis, os católicos, os jesuítas, os capuchinhos e massacraram a cultura indígena.

Hoje, segundo Bolognesi, o papel da evangelização está sendo exercido pelas igrejas evangélicas, que têm correntes fundamentalistas e muito agressivas e apresentam grande crescimento no Brasil. Além disso, o trabalho destas igrejas é realizado de modo muito violento, em particular, contra os pajés, ao os acusarem de terem ligação com o diabo, o que os leva a serem perseguidos por seu próprio povo.

Algumas lideranças indígenas mostradas no filme afirmaram que a violência contra os pajés e a perseguição da igreja é, precisamente, o maior problema que os povos indígenas enfrentam atualmente no Brasil, por isso decidiram escrever um manifesto, que teria trechos lidos durante a apresentação do filme no festival.

O texto lembra que em nome de um deus, homens missionários atacaram nos últimos séculos muitas outras formas de vida e alerta que hoje se observa o emergir de novas cruzadas de intolerância, especialmente de missões evangélicas.

Além disso, os indígenas denunciam que os evangelizadores se aliam aos inimigos dos povos indígenas, com mineradores e lenhadores legais e ilegais, com o objetivo de explorar não apenas os elementos preciosos de suas terras, mas também de suas almas.

Segundo Bolognesi, o encontro entre o interesse evangélico e o agrobusiness é estratégico, pois ambos formam uma rede que trabalha em conjunto e que tem como objetivo destruir a dimensão mitológica dos povos indígenas.

Se acabamos com sua mitologia, a floresta já não tem valor mágico, já não tem valor simbólico, espiritual e, assim, fica mais fácil convencer os povos indígenas a destruir tudo e a despertar neles o interesse pelo dinheiro, comentou o cineasta.

Para Bolognesi, é precisamente de sua relação mitológica com a floresta e com a terra que os ocidentais brancos têm algo a aprender.

Falamos muito de sustentabilidade, esta é a palavra do momento, mas ninguém no mundo conhece mais de sustentabilidade que os povos indígenas das Américas, afirmou o cineasta.

Durante milhares de anos, explicou Bolognesi, os povos indígenas viveram de uma riqueza muito grande de carboidratos e proteínas, sem destruir a diversidade de DNA que existe no mundo.

O diretor também ressaltou a necessidade de mobilização das pessoas, pois não basta ter consciência e estar em casa reivindicando coisas através do Facebook.

É necessário se emocionar, se indignar e ir para a ação, pois é preciso lutar pela preservação das culturas indígenas, concluiu o autor do documentário. EFE

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